Gichin Funakoshi

Biografia de Gichin Funakoshi
(1868-1957)

Em Novembro de 1868 nasceu Gichin Funakoshi em Shuri, Okinawa. A família Tominakoshi (designação formal da família) possui o título Shizoku (pequena aristocracia) e Gichin é neto de um confucionista que ensinava membros da família real – Gisu Tominakoshi. Tendo nascido prematuro, Gichin viria a ter uma saúde débil em toda a sua infância.

Em 1880 começa a praticar To-de em Okinawa, sob a orientação de Yasutsune Azato, pai de um colega seu de escola. A carta de recomendação do jovem é entregue a Azato pelo seu avô Gisu Tominakoshi. O médico da família - Tokashiki - apoia esse procedimento, como método de reforço da saúde do jovem. É provável que Funakoshi, antes de se tornar discípulo de Azato, tenha estudado durante um curto período com Taitei Kinjo, conhecido como "punho de ferro" pela sua capacidade de derrubar um touro com um único murro. Funakoshi viria a conhecer e treinar com outros mestres, tais como: Yasutsune Itosu, Sokon Matsumura, Kanryo Higaonna, Kiyuna, Toono (originário de Naha) e Niigaki.

Aos 20 anos, em 1888, Funakoshi obtém aprovação nos exames para professor primário, profissão que viria a exercer até 1921, sem que lhe tenha sido jamais registada uma falta por doença. Em 1902 lidera uma demonstração de To-de (Okinawa-te) perante Shintaro Ogawa, comissário escolar, contribuindo para o reforço do ensino da disciplina nos liceus da região. Em 1903 apresenta o primeiro programa pedagógico para a prática de Tode (Okinawa-te) nos liceus de Okinawa. Em 1906 morre um dos seus grandes Mestres - Yasutsune Azato. No mesmo ano Gichin Funakoshi organiza a primeira exibição pública de Tode em Okinawa. Nasce o seu terceiro filho Yoshitaka (ou Gigo). Em 1912 militares da Marinha Imperial Japonesa são mandados a Okinawa para aprender To-de (Okinawa-te), e treinam sob a orientação de Gichin Funakoshi. Em 1913 Gichin Funakoshi organiza uma equipa de demonstrações de To-de (Okinawa-te) que, nos dois anos seguintes, viria a realizar centenas de exibições perante milhares de espectadores por todo o território de Okinawa. Integram este grupo personalidades que hão-de tornar-se famosas no panorama do Karate, tais como: Choki Motobu, Chotoku Kyan e Kenwa Mabuni.

Em 1915 morre o segundo principal Mestre de Funakoshi - Yasutsune Itosu. Em 1917, no Botoku-den de Kyoto efectua-se a primeira demonstração de To-de (Okinawa-te) fora de Okinawa, a qual é liderada por Gichin Funakoshi. A 6 de Março de 1921 o príncipe herdeiro Hirohito assiste a uma demonstração de To-de (Okinawa-te) liderada por Gichin Funakoshi no grande hall do Castelo de Shuri. Chojun Miyagi participa igualmente nesta demonstração. Ainda no mesmo ano Funakoshi funda e passa a presidir à Shobukai de Okinawa (Associação para a Promoção do Espírito das Artes Marciais de Okinawa). Consequentemente resigna à sua profissão de professor. Em 1922 Jigoro Kano efectua a sua primeira visita oficial a Okinawa e faz um discurso acerca do Budo japonês que inspira os praticantes locais de To-de (Okinawa-te) a darem a conhecer a sua arte. Nesse mesmo ano, a 1 de Abril, o Ministério da Educação organiza a "Primeira Exibição Atlética Nacional" em Tóquio onde se exibem diversas artes marciais. O To-de (Okinawa-te) é uma das artes convidadas e Gichin Funakoshi é escolhido, pelos diversos peritos de Okinawa, para liderar a demonstração, a qual constitui a primeira apresentação pública de To-de ao público de Tóquio. A 17 de Maio, na sequência da exibição pública de To-de (Okinawa-te), Gichin Funakoshi realiza, a convite de Jigoro Kano, uma demonstração no Kodokan. Nessa demonstração Funakoshi solicita ao seu discípulo Shinken Gima que demonstre a kata Naihanchi (mais tarde denominada Tekki). Nesta ocasião Funakoshi fabrica com as suas próprias mãos, para si e para o seu discípulo os primeiros Karate-gi, inspirados no Judo-gi. Ainda em 1922, no mês de Junho Gichin Funakoshi publica um artigo sobre To-de (Okinawa-te) no jornal Tokyo Nichinichi. É o primeiro artigo publicado sobre esta arte fora de Okinawa. As primeiras aulas são dadas aos membros do Clube Popular Tabata e a primeira escola é aberta no Meisei Juku - um dormitório para estudantes originário de Okinawa - situado no bairro Suidobata em Tóquio. Ainda no mesmo ano a editora Bukyosha traz a público o primeiro livro de Gichin Funakoshi: Ryu-kyu Kempo. O artista Hoan Kosugi, entusiasmado com o karate de Funakoshi, faz as ilustrações do primeiro livro do mestre. No ano da sua chegada a Tóquio, Funakoshi recebe um aluno muito especial: trata-se de Hironori Ohtsuka, na altura já um experiente praticante de Ju-jutsu com 17 anos de prática. Ohtsuka tinha ouvido falar de Gichin Funakoshi, procurando-o, decide tornar-se seu discípulo. Ohtsuka viria a praticar sob a orientação de Funakoshi durante os seguintes nove anos. Em 1923, as instalações do Meisei Juko, onde Gichin Funakoshi reside, trabalha e dá aulas, são destruídas por um enorme terramoto. Em 1924 Yoshitaka (Gigo) Funakoshi vai viver para Tóquio e passa a morar com o seu pai. Embora praticante de To-de (Okinawa-te) Yoshitaka (Gigo) Funakoshi dedica apenas parte do seu tempo à prática desta arte, uma vez que estuda no laboratório de radiologia da Universidade de Tóquio, onde virá a obter o diploma de Técnico de Radiologia, passando então a trabalhar nesse mesmo local e no Ministério da Educação. No mesmo ano, Hakudo (Hiromichi) Nakayama (o fundador do moderno Iai-do) ao tomar conhecimento que Funakoshi não tem onde dar aulas, oferece-lhe os horários livres do seu dojo de kendo, situado em Kyobashi, Tóquio. Adopta então um esquema de graduações (kyu, dan) semelhante ao do Kodokan. Todos os karatecas usam agora o Karate-gi branco, que Funakoshi introduzira pela primeira vez na demonstração no Kodokan em 1921. Os dan's passam a usar cinto negro. É fundado o primeiro clube universitário na universidade de Keiho, a convite do professor Shinyo Kasuya, do Departamento de Línguas Germânicas.

Em 1926 Gichin Funakoshi publica, através da Editora Kobundo, uma segunda edição do seu primeiro livro, desta vez sob a designação de: "Rentan Goshin To-de Jutsu" (as "placas de impressão" originais do seu primeiro livro tinham sido destruídas no terramoto de 1923). A 20 de Março de 1928 Gichin Funakoshi realiza uma demonstração de To-de (Okinawa-te) no Sainei-kan do Palácio Imperial, em Tóquio. Ainda em 1928 recebe a visita de Kenwa Mabuni, e no ano seguinte de Chojun Miyagi , que efectuam as suas primeiras viagens a Tóquio. Na altura Funakoshi tem já 61 anos e Miyagi surpreende-se com as condições extremamente modestas em que o encontra. No início da década de 30 assiste-se à abertura de clubes de To-de (Okinawa-te) em várias universidades: Takushoku, Chuo, Shodai (agora chamada Hitotsubashi), Waseda, Hosei, Gakushuin, Nihon e Meiji. Gigo Funakoshi começa, a pedido do seu pai, a tomar alguma liderança das aulas de karate nas universidades, especialmente em Waseda. Entre os inúmeros discípulos de Funakoshi que aderem ao estudo da arte de Okinawa há a destacar dois nomes e duas datas: Shigeru Egami que começa a treinar em 1931 na Universidade de Waseda, ajudando a fundar o Clube de Karate local; e Masatoshi Nakayama que inicia a sua prática em 1932 enquanto aluno da Universidade de Takushoku. Algures nesta data Gichin Funakoshi terá tido também os primeiros contactos com Morihei Ueshiba, quer frequentando alguns dos seus Seminários especiais, quer trocando opiniões pessoais com este acerca da essência do Budo. Em 1933 Gigo Funakoshi passa a dar mais ênfase à prática do combate no Karate, criando o Kihon Ippon Kumite. Em 1934 os alunos de Funakoshi sob a orientação de Takeshi Shimoda, considerado o seu mais talentoso estudante e conhecedor de Kendo e Ninjutsu (escola Nen Ryu) - realizam uma digressão pela área de Kyoto - Osaka e pela ilha de Kyushu. Logo após a digressão Shimoda contrai uma pneumonia e, poucos dias depois, morre. Após a morte de Takeshi Shimoda, Gichin Funakoshi nomeia como principal assistente o seu filho Gigo Funakoshi, que entretanto obtivera o título de Renshi da Butokukai. Ainda no mesmo ano Gigo Funakoshi introduz o Jiyu Ippon Kumite (kumite semi-livre). Hironori Ohtsuka abandona o grupo de Funakoshi, abre um dojo em Tóquio e começa a ensinar a sua arte conciliando a actividade pedagógica com a sua profissão de médico. O tipo de prática que propõe - incorporando exercícios de combate e técnicas de Ju-jutsu - constitui uma alternativa ao método de Gichin Funakoshi. Gera-se então a primeira cisão na prática do Karate, havendo vários grupos universitários que aderem ao método de Ohtsuka, que em breve seria denominado Wado - Ryu. Em 1935 Kichinosuke Saigo, importante figura política da época e um dos mais antigos alunos de Gichin Funakoshi, cria um comité que se propõe, como primeira tarefa, a construção do primeiro dojo de karate no Japão. Esse comité é considerado o embrião da Associação Shoto (Shotokai). Nesse mesmo ano Gichin Funakoshi publica a sua obra fundamental "Karate - do Kyohan" (conhecida internacionalmente como "O Texto do Mestre"), onde surge pela primeira vez o famoso Tigre desenhado por Hoan Kosugi, que viria a tornar-se no símbolo do karate de Funakoshi.

Nessa obra Funakoshi propõe oficialmente a modificação do kanji "To" - associado à dinastia chinesa Tang, e que significa "antigo" - pelo Kanji "Ku" que significa "vazio". Uma vez que ambos os Kanji também se podem pronunciar "Kara" a forma verbal continua inalterada. Karate deixa então de significar "a mão antiga" ou "chinesa" e passa a ser conhecido como o “caminho das mãos vazias”. Ainda em 1935 Gigo Funakoshi introduz a prática do Jiyu Kumite ("kumite livre") e, com o apoio de Shigeru Egami e Genshin Hironishi, entre outros, desenvolve novas técnicas de pernas como: Yoko Geri (Kekomi e Keage), várias formas de Mawashi-Geri, Fumikomi e Ushiro- Geri. As posições de base tornam-se mais baixas que as tradicionais. Na Primavera de 1936 a recolha de fundos iniciada no ano anterior por Kichinosuke Saigo dá os seus frutos e o dojo de Funakoshi começa a tornar-se uma realidade, começando desde logo a realizar-se as primeiras aulas. Na porta de entrada é colocada uma placa com o nome "Shotokan" - a "casa" de Shoto - designação escolhida pelos alunos de Gichin Funakoshi em homenagem ao Mestre, que costumava assinar os seus poemas com o pseudónimo "Shoto" (literalmente: "ondulação dos pinheiros"). A 1 de Março de 1938 conclui-se a construção do dojo Shotokan. Com a materialização do Shotokan, corporiza-se o "espírito do grupo" criado em 1935 por Kichinosuke Saigo para o desenvolvimento dos ideais de Gichin Funakoshi. Esse grupo designado Shotokai - Associação Shoto - passará a ser, por assim dizer, a "alma" do Shotokan - a Casa de Shoto. Em 1939 Gichin Funakoshi e Kenwa Mabuni inscrevem as suas respectivas escolas de Karate no Butokukai. Após se terem submetido a exame, na mesma sessão, é-lhes concedido o grau Renshi. Em 1940 Gichin Funakoshi proíbe os seus alunos de executarem Jiyu Kumite ("combate livre") por verificar que, em parte devido ao fervor nacionalista e também pelo desejo de competição, essa prática induz a um espírito de violência contrário à essência do Budo. Em Dezembro de 1943 Gichin Funakoshi publica "Karate-do Nyumon". Crê-se que o seu filho Yoshitaka Funakoshi tenha colaborado activamente com seu pai na elaboração da parte técnica do livro, conjuntamente com Wado Uemura e Yoshiaki Ayashi. O ano de 1945 vai revelar-se um ano terrível para Gichin Funakoshi. A 10 de Março entre as 2 e as 3 da manhã o Shotokan e a residência anexa da família Funakoshi, anexa ao dojo, são destruídos durante os bombardeamentos de Tóquio. Gichin Funakoshi é acolhido pelo filho mais velho Yoshihide, passando a residir na casa deste situada no bairro Koishikawa em Tóquio. No final desse ano Gigo Funakoshi morre na sequência de uma prolongada doença pulmonar. O funeral ocorre a 24 de Novembro. A esposa de Gichin Funakoshi que lograra sobreviver à destruição de Okinawa, deixa a sua região natal e reúne-se ao marido em Oita, Kyushu, onde passam a viver em condições muito difíceis. No final do Outono de 1947 a esposa de Gichin Funakoshi morre devido a uma crise de asma. Logo após, Funakoshi regressa a Tóquio, voltando para casa do seu filho mais velho Yoshihide. Durante a longa viagem Funakoshi recebe ovações de alunos que o esperam em muitas das estações onde o comboio pára. Encorajado pelos discípulos organiza, ainda em 1947, uma grande demonstração de Karate em Tóquio. A 1 de Maio de 1949, pelas 18 horas no Iomiuri Shibum Hall, é criada a Nihon Karate-do Kyokai (conhecida internacionalmente por Japan Karate Association - JKA). Em 1951 e apesar da idade avançada (mais de 80 anos) Gichin Funakoshi continua a ensinar, quase exclusivamente Kata, nas universidades de Waseda, Keio, Hosei, Chuo, Hitotsubashi e Gakushin e, ainda, no Colégio Japonês de Medicina, Colégio Nacional de Educação Física (Nikaido) e nas Academias Naval e Militar. A 13 de Outubro de 1956 Gichin Funakoshi termina o Prefácio da segunda edição de Karate-do Kyohan, lamentando-se do "quase irreconhecível estado espiritual a que chegou o mundo do Karate actual" e apela a quem possa "compreender os seus anseios profundos (...) de forma a completar os objectivos do trabalho". Isao Obata, Hiroshi Noguchi, Genshin Hironishi e outros "homens de confiança" de Gichin Funakoshi, provenientes da "linha tradicional" do karate, abandonam a JKA. Com o apoio do próprio Gichin Funakoshi, que assume a presidência da organização, e de Shigeru Egami, o mais próximo discípulo de Funakoshi nos últimos anos de vida, formalizam a Nihon Karate-do Shotokai. A 26 de Abril de 1957 Gichin Funakoshi morre. O filho primogénito - Yoshihide - decide organizar o funeral com o apoio da Nihon Karate-do Shotokai e dos amigos mais próximos da família Funakoshi, nomeadamente: Shigeru Egami (que estivera, conjuntamente com a família, junto ao leito do Mestre quando este exalara o último suspiro), Genshin Hironishi e Motohiro Yanagisawa. A JKA discorda da decisão de Yoshihide Funakoshi e afirma recusar-se a participar no funeral de Gichin Funakoshi caso não lhe seja permitido organizar o funeral. Promove-se uma reunião de emergência entre a Nihon Karate-do Shotokai e a Nihon Karate Kyokai (JKA). Não tendo sido possível consenso entre ambas as partes conclui-se que a decisão de participação no funeral de Mestre Funakoshi competirá à consciência pessoal de cada um dos seus alunos. No dia do funeral de Gichin Funakoshi verifica-se que apenas comparecem os grupos universitários ligados ao Shotokai - Chuo, Senshu, Toho, Gakushuin e Tokyo Noko. O grupo universitário de Waseda hesita mas acaba por participar (por insistência do Presidente da Universidade - Dr. Nobumoto Ohama, um amigo e conterrâneo de Funakoshi). Infelizmente a grande maioria dos alunos de Gichin Funakoshi, especialmente os mais ligados à JKA, não comparecem ao funeral do Mestre. Em Junho desse mesmo ano, a JKA organiza, no maior espaço coberto japonês para a prática desportiva - o Ginásio Metropolitano de Tóquio - o primeiro All Japan Karate-do Championship Tournament, trata-se da primeira competição pública de Karate no Japão.

Morihei Ueshiba

Morihei Ueshiba nasceu no dia 14 de Dezembro, de 1883 em Tanabe, Província de Kii (actual Wakayama). Os seus pais chamavam-se Yoroku e Yuki Ueshiba. Em Outubro de 1902, casou-se com Hatsu Itogawa, uma prima afastada. Ueshiba estudou as seguintes artes marciais: Tenjin Shin'yo-ryu Jujutsu com Tokusaburo Tozawa por um período breve em 1901 em Tokyo; Goto-goto-ha Yagyu Shingan-ryu com Masakatsu Nakai desde 1903 a cerca de 1908 na cidade de Sakai perto de Osaka; Judo com Kiyoichi Takagi por volta de 1911 em Tanabe; e Daitoryu Jujutsu com Sokaku Takeda a partir de 1915 em Hokkaido. Provavelmente Ueshiba participou em mais seminários adicionais ministrados por Takeda. Embora os detalhes não sejam conhecidos com precisão, sabe-se que Ueshiba acompanhou também o seu professor como assistente enquanto viveu em Hokkaido. Além disso, recebeu de Takeda em 1922, um "rolo de transmissão" de esgrima de Shinkage-ryu, durante a última estada deste em Ayabe. A sua associação directa com a escola de Takeda está documentada entre 1915 e 1937. Ueshiba pode também ter recebido influências da escola de esgrima de Yagyu Shinkage-ryu já que Kosaburo Gejo foi seu estudante durante alguns anos nas décadas de 20 e 30 no Dojo Kobukan.

O fundador do Aikido foi influenciado também filosófica e religiosamente pela religião de Omoto, em especial pelo Reverendo Onisaburo Deguchi. A sua ligação a esta religião começou em Dezembro de 1919. Ueshiba viveu em Ayabe de 1920 a 1927 participando activamente como crente de Omoto e apoiante de Deguchi. Em 1924 acompanhou o líder do Omotokyo numa expedição de má-memória pela Manchúria e Mongólia, numa tentativa de ali estabelecer uma colónia utópica. Incitado por diversos oficiais militares de elevada categoria, nomeadamente o Almirante Isamu Takeshita, Ueshiba mudou-se para Tóquio, em 1927, passando a ensinar em diversos locais antes de fundar o Dojo Kobukan em 1931. Este dojo constitui o centro das suas atividades nos 11 anos seguintes, tornando-se extremamente activo como professor de Daito - Ryu Aikijujutsu. Gradualmente separou-se de Sokaku Takeda e começou a chamar à sua arte "Budo". Na fase final da década de 30, o fundador realizou várias viagens à Manchuria onde realizou seminários e demonstrações. Com o desencadear da Segunda Guerra Mundial, renunciou aos seus postos de ensino em Tóquio, que incluíam diversas escolas militares, e retirou-se para Iwama. Durante e imediatamente após a guerra, Ueshiba permaneceu em lwama devotando-se intensivamente ao treino, à meditação e à agricultura. Afirmou repetidamente que foi em lwama que aperfeiçoou o Aikido moderno. Em meados dos anos 50, o fundador começou a gastar considerável tempo em Tóquio tendo viajado também, frequentemente à região de Kansai. Ueshiba recebeu a medalha da honra com a fita roxa do governo japonês em 1960. Em 1961, acompanhado por Koichi Tohei e por Nobuyoshi Tamura, visitou o Hawai para participar na abertura da Aikikai de Honolulu. Os últimos anos de Morihei Ueshiba foram passados principalmente em Tóquio à medida que a sua saúde se tornava gradualmente mais frágil. Não obstante, continuou a ensinar até aos primeiros dias de Fevereiro de 1969, altura em que adoeceu, tendo dado entrada no hospital da universidade de Keio. Pouco depois foi-lhe dada alta para voltar a casa onde viria a morrer com um cancro de fígado em 26 Abril de 1969. Foi-lhe concedido a título póstumo o nome budista de Aiki-in Seibu Enyu Daidoshi. Ueshiba ensinou dezenas de milhares de estudantes durante a sua carreira que se estendeu por 50 anos e é recordado pelo seu ponto de vista ético humanista das artes marciais.

Gigoro Kano

 
Gigoro Kano nasceu em Mikage, distrito de Hyogo no dia 28 de Outubrode 1860. Filho de Jirosaku Maresiba Kano, transferiu-se para Kyoto após amorte de sua mãe. Aos 15 anos mostrou uma afinidade especial pelos idiomas, por isso entrou na Escola de Idiomas Estrangeiros (actualUniversidade de Tóquio) e começou a estudar inglês, tendo-se tornado
posteriormente tradutor, montou a sua própria escola em Tóquio, oKobukan. Na Universidade estudou ciências políticas, economia, educação moral eestética. Jigoro Kano praticou o Ju-jutsu, no qual se baseou para criar o judo. Subiu um a um os degraus da Escala Imperial Japonesa, chegando ao segundo grau após a sua morte, ocorrida em 4 de Maio de 1938, ou seja com 77 anos de idade, quando voltava do Cairo onde tinha participado na Assembleia Geral do Comité Internacional do Jogos Olímpicos. Era de baixa estatura, medindo 1,50 metro e o seu peso, proporcional a altura, não ia além de 50 quilos. Aos dezassete anos, teve o seu primeiro professor, mestre Fukuda, da escola Coração de Salgueiro, depois, mestre Iso, e ainda Iikugo. Procurou conhecimento também em outras escolas, tendo estudado com rara persistência, o que lhe permitiu um pouco mais tarde formar um conjunto de técnicas, regras e princípios que viriam a constituir o Judo que hoje conhecemos. Formado pela universidade Imperial de Tóquio, em Letras e Ciências
Estéticas e Morais, no ano da sua formatura em 1882, Jigoro Kano fundou a sua escola, o Kodokan, na qual pretendeu desenvolver um novo método de luta, mais desportiva, mais intuitiva, mais segura e sem os segredos que impediam uma divulgação generalizada, para que todos pudessem usufruir, desde crianças até adultos de idade mais avançada. A sua vida não ficou conhecida, nem marcada e não atingiu o topo só através do Jiu-Jitsu e do Judo, mas a sua cultura possibilitou-lhe alcançar altos postos no Ensino, no desporto e no governo do seu país. Foi professor, vice-presidente e reitor do Colégio dos Nobres, adido do ministro da Casa Imperial, conselheiro do ministro da Educação Nacional, director da Escola Normal Superior e, ainda, secretário da Educação Nacional. Fundou sociedades e institutos para jovens e também o primeiro clube de Basebol do Japão. Editou revistas, viajou para a Europa e América do Norte em missão cultural. Foi ainda director da educação primária, presidente do Centro de Estudos das Artes Marciais e o primeiro Japonês a pertencer ao Comité Olímpico Internacional e, ainda, presidente da Federação Desportiva do Japão.
Sem dúvida, para alguém como Kano que introduziu o desporto e a Educação Física no plano educacional do Japão, facto esse que já seria o suficiente para perpetuar o seu nome como educador e como desportista, Jigoro Kano recebeu também o galardão de Pai da Educação Física do Japão.